O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

domingo, 29 de junho de 2014

ENCONTRADO MJÖLNIR COM RUNAS NA DINAMARCA!!!

ENCONTRADO MJÖLNIR COM RUNAS NA DINAMARCA!!!


Um pingente do martelo de Thor (Mjölnir) foi encontrado na Dinamarca (Ilha de Lolland) e é o único exemplar deste tipo encontrado com runas até hoje. Ele foi confeccionado em bronze e apresenta traços de prata e possivelmente utilizado como amuleto. Um dos lados do martelo possui ornamentos espiralados de formato tradicional, encontrados em outros pingentes de martelo, enquanto o outro possui a pequena inscrição rúnica: "Este é um martelo". Também foram encontrados broches e outros objetos no local, mas o Museum Lolland-Falster, responsável pelo local, não confirmou escavações sistemáticas para o sítio. O objeto foi encontrado através de um detector de metais. O pingente foi datado do século X, um momento em que a produção de amuletos do martelo de Thor aumentou consideravelmente na Escandinávia, talvez como resposta ao uso de crucifixos cristãos.



quarta-feira, 25 de junho de 2014

ENTRE TRANÇAS E NÓS: OS ADORNOS CAPILARES FEMININOS NA ERA VIKING

                                                          Prof. Luciana de Campos                                                  (Doutoranda em  Letras pela UFPB, membro do NEVE e VIVARIUM).

            Os cabelos sempre foram um dos adornos mais importantes usados pelas mulheres desde a Pré-História. Podiam ser utilizados para simplesmente enfeitar-se ou seduzirem, ou arrumá-los para agradar aos deuses e, assim protegerem-se contra possíveis infortúnios e também demonstrarem o seu status social. Uma mulher que apresentasse farta cabeleira, bem arrumada era mais do que um simples acessório de beleza, e pode apresentar-nos maiores possibilidades de análise do seu uso e não apenas restringir-se à habilidade manual para a composição de tranças e nós, pois, essas tramas capilares são reveladoras de posições sociais, de estado civil e também de serviço religioso e de utilização mágica.
            Os cabelos longos utilizados tanto por homens como por mulheres – desde a Mesopotâmia até o mundo contemporâneo - sempre estiveram ligados à virilidade, a força e também a liberdade (Rouche, 2009, p. 441). A literatura, as artes plásticas, o cinema e, mais recentemente os jogos de RPG e eletrônicos sempre apresentaram os guerreiros mais fortes e as mulheres mais belas com vastas e espessas cabeleiras, as madeixas femininas muitas vezes caiam até a altura da cintura e havia aquelas mais longas ainda. A arte Pré-Rafaelita sempre apresentou as suas mulheres que na maioria das vezes eram personagens da mitologia e do folclore nórdicos com cabelos muito longos geralmente soltos para reforçar o seu caráter de sedução e também mostrar que os cabelos muito longos constituíam um padrão de beleza da Era Viking. Essas representações das longas cabeleiras tanto masculinas como femininas que sobreviveram ao longo do tempo nas artes e também no imaginário popular, foram preservadas em pingentes, em múmias e na iconografia são fundamentais para entendermos como as tramas capilares femininas foram importantes meios de demonstração de condição social e também de práticas mágico-religiosas.
            Os cabelos femininos bem compridos eram deixados soltos pelas mulheres solteiras, não havendo a necessidade de ocultá-los sob os lenços ou toucas que evidenciavam o seu matrimônio (ROUCHE, 2009, p. 441,442), como mostram as imagens das figuras 3 e 4 de uma mulher da Era Viking que trança seus cabelos e depois faz um nó triplo (o Valknut ou nó dos mortos) com elas e envolve toda a cabeça com uma espécie de touca.

Types of Viking Headdresses from Coppergate and Lincoln (after Gail Owen-Crocker)


Figura 1: Ilustração contemporânea do uso de lenços ou tocas por mulheres da Era Viking, fonte: http://www.vikinganswerlady.com/hairstyl.shtml acesso em 27/02/2013 às 09:51. Figura 2: Ilustração contemporânea de tranças da Era Viking. Fonte: http://www.pinterest.com/pin/172333123214286860/ Acesso em 27/02/2013 às 09:54.

Adornados com longas tranças presas com fitas tecidas com linho lã específicas para prender os cabelos ou finas tiras de couro eram também presos por nós, principalmente o nó triplo, o valknut (Langer, 2010, p. 13) ou nó dos mortos que, e podemos supor que esses nós capilares não tinham somente um efeito estético, eram também utilizados como simbolismos mágicos.  As tranças podiam ser presas em forma de coque no alto da cabeça ou à altura da nuca, ou, então envolvendo toda a cabeça como uma coroa ou, então, presas umas as outras e atadas com o nó triplo e, depois envolvidas com um lenço. Já o nó triplo no alto da cabeça que deixava cair em cascata o restante dos cabelos é um penteado muito comum em pingentes da Era Viking representando as valquírias.
As imagens 1 e 2 abaixo mostram dois diferentes tipos de tranças e nós usados pelas mulheres na Era Viking: na primeira, as tranças são atadas por fitas ao redor da cabeça proporcionando um efeito estético que lembra uma coroa e, na outra ilustração (figura 2) há outra trança, também atada à nuca e cai pelas costas dando a impressão que estão emaranhadas por nós. A imagem 3 é a representação gravada em estela gotlandesa de uma valquíria segurando um corno de hidromel e pode-se perceber de maneira evidente o nó triplo em seus cabelos.

Valkyrie. Runestone from Alskog, Tjangvide, Gotland.


Figura 3: Imagem de valquíria da Era Viking, portando um tradicional nó odínico, Gotland, séculos VIII-IX. Fonte: Museu Histórico de Estocolmo. Figura 4: Pingente de Valquíria de Funen, Dinamarca, circa 800. Apresenta o mesmo nó que a figura anterior, mas em detalhes tridimensionais. Fonte: Jesch, 2014.

Nesses pingentes (figura 4) ou baixo relevos em pedra que representam as valquírias, essas mulheres aparecem de perfil segurando um corno de bebida e estão algumas vezes em trajes femininos muito comuns em toda a Era Viking:  vestidos com sobrecapa adornados por colares de contas e presos com fivelas de metal que quanto mais coloridos e trabalhados eram tantos as fivelas como os colares demonstravam a maior riqueza e visibilidade social de suas usuárias. Esses pingentes que representam as valquíras as colocam sempre em posição de atendentes, e o que evidencia que essas mulheres podem ser reconhecidas como valquírias é justamente pela presença do nó triplo do alto da cabeça e o corno de hidromel que seguram e o mesmo está pronto para ser entregue aos guerreiros que chegam ao Valhala. Mas também atentamos ao fato de que em pingentes, as emissárias de Odin geralmente portam equipamentos bélicos, como podemos constatar na figura 4, apresentando o mesmo nó capilar da figura 3.
Como essas representações de adornos capilares ainda é um campo pouco explorado tanto por pesquisadores nacionais como por estrangeiros e, portanto a bibliografia é praticamente inexistente, esse campo de estudo está relacionado diretamente ao estudo do corpo e suas representações.   Infelizmente esse tipo de pesquisa ainda consta apenas como curiosidade sobre a vida cotidiana das mulheres nórdicas da Alta Idade Média e muito há a ser estudado, pois essas representações são fundamentais para compreendermos a dinâmica de funcionamento de determinadas grupos sociais e tanto a roupa, como os acessórios, como por exemplo, as tranças e os nós são peças-chave para esse estudo. Há algumas pesquisas disponíveis muito genéricas sobre a história do cabelo seus adereços e, principalmente o seu uso não só como um simples adorno, mas, como um símbolo de poder e de visibilidade social.
Recentes estudos como os da arqueóloga britânica Marianne Moen que escreveu a dissertação “The gendered landscape” onde aborda questões pouco exploradas de gênero levanta muitas hipóteses que devem ser levadas em conta quando estudamos não somente a mulher na Era Viking, mas tudo o que cerca o mundo feminino na época como vestimentas, acessórios, utensílios domésticos e, principalmente um cuidado especial quando são utilizadas fontes literárias para essa análise. A arqueóloga ressalta que a partir do século XIX quando a Era Viking e, consequentemente a construção de um ideal de mulher viking passou a ter uma importância significativa para a composição e consolidação de uma identidade escandinava isso se deu sob a forte influência dos rígidos ideais vitorianos de conhecimento, moral, beleza e, principalmente comportamento. Durante a Era Vitoriana foram feitas muitas descobertas arqueológicas e durante esse processo estabeleceram-se rígidas normas de como deveriam ser apresentadas e representadas principalmente para o grande público que consumia via imprensa as notícias dessas descobertas, os modelos femininos vigentes das sociedades que estavam sendo estudadas a partir dos achados arqueológicos.
Os modelos de beleza vitorianos pregavam o recato: a mulher devia estar presa aos sufocantes espartilhos e, mesmo sem habilidade praticar cotidianamente o que, no mundo contemporâneo as mulheres fazem por prazer: thing lacing que é a habilidade de trançar com certa rapidez as fitas que prendem o espartilho e, claro manter presa e de preferência com muito recato com tranças, fitas e alfinetes a vasta cabeleira que podia ser mostrada apenas para o esposo na meia luz dos aposentos.
Esses modelos estéticos femininos que como já foi dito anteriormente ganhou força principalmente a Escola Pré-Rafaelita é praticamente o modelo vigente até hoje: no imaginário, a mulher viking sempre é representada com os longos cabelos presos com espessas tranças. Não há como pensarmos nelas sem os seus longos cabelos. A arte nas suas mais variadas formas já impregnou o nosso imaginário com esse modelo, mas um “corpo do pântano”, o “corpo de Elling” achado recentemente na Dinamarca, apresentou conservado o corpo e principalmente o cabelo de uma mulher, possivelmente pertencente a aristocracia, que apresenta um penteado com nós e tranças muito elaborado o que reforça a hipótese de que mais do que simples adorno natural os cabelos serviam para serem trabalhados e assim demonstrarem a visibilidade das mulheres na sociedade nórdica. As tranças do corpo feminino de Elling são importantes para compreendermos como esses penteados foram importantes não  só  para a  demonstração  de poder   dessas mulheres uma vez que seus


Elling Woman


Reconstruction of Elling Woman's hairstyle and cloak
Figura 4: Cabeça da Mulher de Elling. Fonte: http://www.tollundman.dk/ellingkvinden.asp. Acesso em 27/02/2013 às 10:00. Figura 5: reconstituição contemporânea das tranças da Mulher de Elling. Fonte: http://www.tollundman.dk/ellingkvinden.asp. Acesso em 27/02/2013 às 10:01.
           
cabelos eram trançados por outras mulheres, provavelmente suas servas ou até escravas e que cabelos muito elaborados com variados tipos de tranças e nós eram um privilégio das mulheres da aristocracia.
            Bem como as mulheres mesopotâmicas, egípcias, gregas, romanas e até mesmo as vitorianas, somente as mais abastadas podiam contar com servas para pentearem e, por assim dizer “esculpirem” seus cabelos de forma muito elaborada que além de realçarem a sua beleza eram um demonstrativo da sua alta posição. Pensando nas mulheres escandinavas que viviam em grandes propriedades que abrigavam um número considerável de trabalhadores aos seus serviços e onde ela detinha um poder que não pode ser visto como limitado à esfera privada, pois elas possuíam o controle das chaves não só da casa mas das despensas que durante os invernos rigorosos abasteciam as mesas de todos, portanto cabelos femininos artisticamente trançados eram uma grande demonstração de poder e de prestígio dentro da comunidade.
            O estudo dos adornos capilares femininos na Era Viking ainda está dando os seus primeiros passos, portanto é necessário muito mais estudos e uma pesquisa multidisciplinar onde a Arqueologia, a Literatura, a ourivesaria, e a iconografia estudadas em conjunto possam fornecer os dados necessários para investigarmos em profundidade e com muito mais rigor e propriedade o muito que os nós, as tramas e as tranças têm a nos dizer. É necessário pesquisas mais profundas, pois há pesquisadores interessados e mais ainda, há um grande numero de jovens estudantes que sentem-se motivados para estudar esse tipo de comportamento cotidiano, porém é necessário quem não se trave o conhecimento e que as práticas corriqueiras do cotidiano sejam vistas como fundamentais para o estudo assim como os documentos escritos.

 
  
Referências:
DAVIDSON, Hilda Ellis.  Myths and symbols in pagan Europe: early Scandinavian and celtic religions. Syracuse: Syracuse University Press, 1988.
JOCHENS, Jenny. Women in Old Norse Society. London: Cornell University Press, 1998.
ROUCHE, Michel. Do Império Romano ao Ano Mil. In: ARIÈS, Philippe e DUBY, Georges. História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 441.

terça-feira, 17 de junho de 2014

LANÇAMENTO: BREVE HISTÓRIA DOS VIKINGS






VELASCO, Manuel. Breve história dos vikings. Rio de Janeiro: Versal editores, 2013, 186 páginas.
Originalmente publicado em Madrid em 2005, o livro Breve história dos vikings foi escrito pelo pesquisador e escritor espanhol Manuel Velasco, autor de vários romances, livros, sites e estudos envolvendo a Escandinávia da Era Viking.
O livro é um pequeno manual que sintetiza a história e a sociedade nórdica, recomendado aos iniciantes ou a todos aqueles que buscam informações sérias sobre um tema popular, mas que infelizmente ainda não conhece muitas publicações acadêmicas em língua portuguesa.
A obra foi dividida em três partes. A primeira explora a história propriamente dita do período mais empolgante e famosa do mundo nórdico, iniciado a partir do século VIII. Além dos aspectos históricos, Velasco também concede informações sobre a sociedade, a vida no campo e fazendas, o alfabeto rúnico, aspectos do cotidiano, a navegação, a formação da realeza, entre outros detalhes.



O escritor Manuel Velasco

A segunda parte trata do tema mais popular até nossos dias, a mitologia nórdica, uma síntese de seus deuses, suas narrativas, cosmogonias e seres fantásticos. A terceira parte completa a obra, trazendo mais informações sobre aspectos religiosos, runas e magia e um pequeno ensaio sobre os vikings na península ibérica.
A edição é ainda inserida de um pequeno quadro cronológico e uma lista bibliográfica e de sites da internet. Com certeza este lançamento pode colaborar com a popularização de estudos mais detalhados sobre o mundo escandinavo, contribuindo com a formação de um público com um conhecimento mais aprimorado do que aqueles que adquirirem informações sobre os vikings apenas pelo entretenimento, mídia e arte.
                       Prof. Dr. Johnni Langer – UFPB/NEVE

segunda-feira, 16 de junho de 2014

RUNAS E MITOS: RESENHA DO FILME RAGNAROK



Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

Mais uma vez o mundo nórdico da Era Viking é retratado em um filme, desta vez uma produção norueguesa para o grande público, Ragnarok (no original: Gåten Ragnarok, 2013). Dirigido por Mikkel Brænne Sandemose, o filme narra a descoberta por um arqueólogo (Sigurd Svenden) de misteriosas inscrições rúnicas que o levam a descobrir a "verdadeira história" por trás do mito do Ragnarok.

Museu do navio viking, com a coleção de Oseberg, em Oslo (Noruega).

A produção é muito influenciada pela estética de Hollywood, mais que os filmes realizados pelos escandinavos em geral, mas a Arqueologia é retratada de forma mais realista do que a série Indiana Jones (aproximando-se mais da produção O corpo,  de 2001). O ponto alto é o início, filmado no museu do navio viking em Oslo (Vikingskipshuset), que além de retratar várias peças encontradas na mais famosa descoberta arqueológica nórdica  (a sepultura de Oseberg, em 1904), também reconstitui alguns momentos de pesquisa em pedras rúnicas (runestones).

Inscrição rúnica da coleção de Oseberg, retratada no filme: "litet-vis maðr" ( o homem conhece pouco)

É muito interessante constatar o papel das runas no imaginário artístico ocidental, especialmente a partir de sua popularização no Oitocentos. Elas se tornam o trampolim inicial de diversas aventuras e expedições, a exemplo do famoso livro de Julio Verne, Viagem ao centro da terra (1864) ou da recente animação Atlantis: o reino perdido (2001). Na história da epigrafia, certamente depois dos hieróglifos egípcios, nada possui um caráter mais misterioso e exótico que as runas, sem contar o seu aspecto divinatório explorado pelo esoterismo moderno.
É a partir dessa premissa que o filme Ragnarok se desenrola. Após proferir o mistério da inscrição de Oseberg (que realmente existe, vide fotografia), o arqueólogo "decifra" supostas inscrições a partir da ornamentação de alguns objetos da sepultura (dedução fantasiosa, obviamente), e logo depois, analisa uma pedra rúnica encontrada na região de Finnmark (norte da Noruega). Ela foi baseada em runestones reais, mas o seu encaixe com um broche da coleção de Oseberg também é ficcional.
A partir deste momento o filme desemboca em peripécias sobre criptozoologia fantástica. A produção poderia ter explorado melhor as narrativas sobre o Ragnarok e os mitos pré-cristãos Mas apesar de seus vários defeitos, pode contribuir para popularizar a arqueologia nórdica e a runologia, temas bem menos conhecidos do que a história e a mitologia nórdica (a cena do encontro de um elmo Gjermundbu em Finnmark é muito divertida). Quanto aos vikings, já são extremamente explorados pela mídia e arte em geral.
Para o interessados nestes temas, a próxima edição do boletim Notícias Asgardianas vai apresentar um especial sobre runas e runologia. Aguardem para breve!


Para saber mais:

RAGNAROK: 
A morte de Odin? As representações do Ragnarok na arte das ilhas britânicas. Medievalista 11, 2012.

MUSEU DO NAVIO VIKING EM OSLO: 
Os museus vikings na Europa, Revista Museu 2004.


sábado, 14 de junho de 2014

MITOS NÓRDICOS EM ESPANHOL: FONTES E ESTUDOS

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

Uma das maiores dificuldades no estudo da mitologia nórdica é a falta de títulos traduzidos em língua portuguesa. Para os estudantes e pesquisadores que se iniciam nesta área e não tem domínio instrumental em inglês, alemão ou línguas escandinavas, os problemas aumentam. Em compensação, existem muitos títulos acadêmicos publicados em espanhol que podem auxiliar os jovens pesquisadores ou interessados neste fascinante tema. Eles podem ser adquiridos facilmente em importadoras (Livraria Cultura, Letra Viva) ou grandes livrarias do Brasil.


FONTES PRIMÁRIAS
 (Traduções do nórdico antigo ao espanhol)




Edda Mayor, edição de Luis Lerate. Madrid: Alianza Editorial, 2009. A mais importante fonte da mitologia nórdica, em uma tradução elegante e sofisticada, contendo ampla diversidade de referências e notas. A reunião dos poemas éddicos segue a tendência padrão da maioria das traduções contemporâneas.






Edda Menor, de Snorri Sturluson. Edição de Luis Lerate. Madrid: Alianza Editorial, 2004. Excelente trabalho editorial, muito superior às traduções da Edda de Snorri de Enrique Bernárdez e Jorge Luis Borges. Constitui a segunda mais importante fonte primária da mitologia escandinava, apesar de suas diversas reinterpretações e sistematizações cristãs.



Poesía Antiguo-nórdica, edição de Luis Lerate. Madrid: Alianza Editorial, 1993. Reunião de traduções da poesia éddica e escáldica. Algumas são fontes primárias para o estudo dos mitos nórdicos, como Darraðarsljóð, Ragnarsdrápa, þórsdrápa e Haustlöng. O livro também contém trechos traduzidos do Háttatal, a quarta parte da Edda Menor e ausente de praticamente todas as edições contemporâneas.



La saga de los Ynglingos, de Snorri Sturluson. Madrid: Miraguano, 2012. Tradução de Santiago Ibáñez Lluch. Os dez primeiros capítulos desta saga islandesa contém informações cruciais ao estudo das divindades nórdicas, especialmente de Odin.



História Danesa, de Saxo Gramático, tradução de Santiago Ibáñez Lluch. Valencia: Tilde, 1999. Importante fonte primária, apresentando algumas versões diferentes de vários mitos nórdicos, como a morte de Balder, entre outros.




Saga de Hervör, edição de Mariano Gonzalez-Campo. Madrid: Miraguano, 2003. Saga lendária contendo a narrativas das mais famosas donzelas do escudo da literatura nórdica e da espada mítica Tyrfingr.





La saga de Fridthjóf el valiente y otras sagas islandesas, edição de Santiago Ibáñez Lluch. Madrid: Miraguano Ediciones, 2009. Coletânea com a mais famosa saga lendária (depois da Saga dos Volsungos). Para uma resenha detalhada em português desta edição, clique aqui.



Sagas islandesas de los tiempos antiguosedição de Santiago Ibáñez Lluch. Madrid: Miraguano Ediciones, 2007. Reunião de sagas lendárias com diversos temas influenciados pela mitologia e folclore nórdico, como gigantas, feiticeiras, berserkir, espadas e objetos mágicos, entre outros.



FONTES SECUNDÁRIAS 
(ESTUDOS ANALÍTICOS)



Los mitos germánicos, de Enrique Bernárdez. Madrid: Alianza Editorial, 2002 e 2010. 328p. Um dos mais atualizados e detalhados manuais sistematizadores da mitologia nórdica. Para uma resenha completa em português, clique aqui.



Los dioses de los germanos, de Georges Dumézil. México: Siglo Veintiuno, 1990. Clássico fundamental dos estudos nórdicos. Nesta obra, o mitólogo francês analisa a mitologia escandinava a partir de sua teoria da tripartição, com uma estupenda erudição e idéias influentes até nossos dias.



El destino del guerreiro, de de Georges Dumézil. México: Siglo Veintiuno, 2003. Outro clássico de Dumézil, aprofundando a questão das deidades marciais indo-européias.




Mitos nórdicos, de Raymon Page. Barcelona: Akal, 1992. Excelente manual introdutório, também traduzido no Brasil pela Centauro neste mesmo ano.


sábado, 7 de junho de 2014

MULHER VIKING: GUERREIRA OU DONA DE CASA?

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)



Porunn

Já faz um ano que muitos me solicitam para realizar uma resenha sobre a série Vikings, do History Channel. Não tenho tempo para isso, afinal, a série apresenta tantos erros, anacronismos, fantasias e estereótipos que seria necessária uma verdadeira tese para poder analisá-la profundamente. Como diversão ela até tem seus méritos, mas temos que separar ficção de História. Talvez pelo fato de ser originalmente produzida por um canal com uma proposta dita de popularização histórica, muitos assistem na esperança de aprender um pouco mais sobre o passado. Mas arte é acima de tudo representação e imaginário, e em se tratando de nórdicos medievais a série segue uma tradição filmográfica muito antiga, a de reproduzir imagens construídas no século XIX.
Neste sentido, muitas das representações sobre mulheres nórdicas de filmes e séries de TV são devedoras deste imaginário romântico oitocentista, em que o referencial feminino foi construído muito mais em personagens advindas das sagas lendárias (como a Saga de Ragnar Lodbrok e a personagem Lagertha, inspiradora da série ou Saga dos Volsungos – no caso de Brunhilde). As mulheres das sagas de família (Íslendingasögur) são geralmente deixadas de lado. Por quê? Por conterem um caráter “mais histórico”, por apresentarem uma visão de mulher ocupando posição essencialmente nas casas e fazendas, por não estarem envolvidas em batalhas ou piratarias, elas não são tão interessantes ao imaginário moderno – num tempo em que personagens como Sonja, Xena, Eowyn, Brienne fazem comoção entre as adolescentes, é claro que o referencial das donzelas de escudo e as valquírias (ambas personagens da mitologia e do material lendário) façam mais sucesso do que a mulher real, que viveu na Escandinávia da Era Viking.

Reconstituição de sepultamento feminino da Era Viking, baseada em pesquisas arqueológicas. Os objetos faziam parte do cotidiano feminino, além de símbolo de status da morta.

Já publiquei um artigo sobre este tema, o imaginário da mulher guerreira nórdica, a partir da análise de quadrinhos anteriores à série Vikings (clique aqui). Mas como sei que muitas ditas “feministas” engajadas neste referencial fantasioso vão declarar que sou machista (pelo simples fato de ser homem) e que realmente as mulheres da Era Viking tinham mais poder do que os homens na sociedade, então recomendo a leitura de três livros básicos sobre o tema, escritos por mulheres escandinavistas, aplicando a teoria de gênero social para este período:


  
JESCH, Judith. Woman in Viking Age. London: Boydell, 1991.
JOCHENS, Jenny. Women in Old Norse society. London: Cornell University Press, 1998.
JOCHENS, Jenny. Old Norse Images of Women. Philadelphia, 1996.


Um excelente estudo em espanhol sobre as mulheres das sagas isdandesas, particularmente a saga de Njal, escrito pela historiadora Nelly Egger de Yölster (clique aqui).


A ficção/arte tem um grande poder de transferir valores e idealizações do presente para o passado, mas é tarefa do historiador demonstrar os limites de seu papel enquanto divulgadora de conhecimento histórico. Obviamente não sou pós-modernista e ainda acredito na ciência. Desde os anos 1980 tenho uma grande fascinação pelo tema de mulheres guerreiras, sejam as amazonas, viragos e personagens dos mitos ou para mulheres que realmente existem evidências de terem ido para o campo de batalha (são poucas, especialmente no medievo). Mas a mulher real da Era Viking era muito mais interessante do que a nossa vã ficção pode imaginar!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

MEMBRO DO NEVE É APROVADO EM SELETIVO DE HISTÓRIA ANTIGA NA UFRN




O historiador Pablo Gomes de Miranda, membro do NEVE, acaba de ser aprovado no seletivo para professor substituto em História Antiga na UFRN, Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Atualmente Pablo Miranda também prepara seu projeto de doutorado, a respeito de práticas xamânicas e religiosidade na Escandinávia Medieval.

Para acessar os artigos e trabalhos de Pablo Miranda, clique aqui.

Na UFRN ocorrerá de 13 a 15 de agosto de 2014 o VIII Encontro Nacional de História Antiga do GTHA da ANPUH, maiores informações aqui.




domingo, 1 de junho de 2014

GRUPO NEVE COMPLETA QUATRO ANOS

O grupo interinstitucional NEVE foi criado em junho de 2010 e tem por principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia da Era Viking e medieval, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Conta com a colaboração de professores, pós-graduandos e graduandos de diversas universidades brasileiras. A criação do NEVE tenta compensar a escassa produção e interesse acadêmico em nosso país pela temática, proporcionando uma maior solidez para os futuros pesquisadores.

DECLARAÇÕES SOBRE O NEVE DE MEDIEVALISTAS BRASILEIROS:

"O vertiginoso crescimento, nas últimas décadas, dos estudos medievais no Brasil é fruto, entre outros aspectos, dos esforços e da dedicação de estudantes e de profissionais de diversas regiões do país, que se congregam em laboratórios e núcleos de pesquisas diversos votados à pesquisa e à divulgação do conhecimento daquela "fatia de duração do tempo" entre nós. Como membro de um deles, o Translatio Studii, gostaria de congratular-me aqui com o Prof. Johnni e com todos os membros que fazem, cotidianamente, o NEVE, grandes responsáveis pela promoção dos estudos das sociedades medievais escandinavas em nosso país. Coube ao NEVE, podemos afirmar, sem lugar à dúvida, fazer aportar em plagas brasileiras a vigorosa experiência histórica das sociedades nórdicas medievais, agora com registros inequívocos, de forma perene e, faço votos, na mais longa e efetiva duração!"
Prof. Dr. Mário Jorge da Motta Bastos - Niterói - UFF


"O trabalho realizado pelo NEVE em prol do conhecimento, análise e difusão dos saberes sobre as sociedades e a história dos nórdicos refletem uma faceta pouco conhecida dos estudos medievais, que começou a ser iluminada há alguns anos atrás e é digna de menção e elogio. Auguramos a sequencia e a manutenção dos resultados e do sucesso que este grupo amealhou nos seus anos de existência."
Prof. Dr. Sergio Alberto Feldman - Vitória - UFES


"Parabéns ao NEVE pela sua existência. Sob a coordenação do Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB) consolida-se um espaço institucional acadêmico destinado aos estudos nórdicos e escandinavos , fruto de longo e árduo trabalho empreendido pelo referido pesquisador. Publicações, eventos e blog são ferramentas mais que úteis para a divulgação da contribuição ímpar daquelas culturas. Que o prof. Johnni e os estudiosos ao seu redor ampliem ainda mais a sua esfera de atuação – queiram os deuses de Asgard!"

Prof. Dr. Álvaro Bragança Júnior - Rio de Janeiro - UFRJ

"O NEVE representa para mim uma oportunidade única no Brasil de estimular não somente os estudos sobre os vikings mas sobre o mundo germânico antigo e medieval. Um local para se trocar ideias de maneira completamente diversa a que estamos acostumados na vida acadêmica, e onde o conhecimento é verdadeiramente construído com a contribuição do grupo. Assim, deixa uma marca indelével em quem participa de suas reuniões e eventos. Deixa também marcas importantes na pesquisa e alcança um lugar merecido no panorama acadêmico nacional, finalmente colocando os estudos germano-escandinavos em pauta. Parabéns NEVE."

Prof. Ms. Sandro Teixeira Moita - Escola de Comando e Estado Maior-do Exército (ECEME)


"Venho por meio de este depoimento agradecer a oportunidade de participar dessa grande família a qual intitulamos abreviadamente NEVE. Grupo que tem como sua principal batalha estender o conhecimento de Idade Media da academia brasileira, abrangendo assim nossos esforços para a difusão de estudos sobre uma sociedade e uma cultura ainda pouco explorada, a Nórdica. Lembro-me aqui ainda de meus primeiros contatos com membros do futuro grupo em meados de 2009 durante o “II colóquio de estudos Celtas e Germânicos: oralidade e literatura” ocorrido na UFF, na época me encontrava com 19 anos e pretendia dar inicio a minhas pesquisas sobre os Vikings, além de que buscava entender aspectos simples da vida de um historiador como a detecção de uma fonte. O estudo sobre a cultura nórdica medieval a partir de 2009 cresceu espantosamente e as publicações em português se tornaram cada vez mais vastas, junto destas se revelou a cada dia novas facetas que auxiliam na compreensão da Idade Media como um período de grande diversidade e riquezas culturais, facetas que sempre foram acompanhadas de um derrubar de estigmas como os da Idade das trevas e principalmente o dos povos Vikings como bárbaros, sanguinários e primitivos. Concluo assim que no aniversario de quatro anos de nosso grupo alcançamos grandes objetivos como a difusão de novos conhecimentos e a proliferação de novos pesquisadores, portanto posso dizer que me alegro por fazer parte junto ao NEVE do fortalecimento de novas fronteiras medievais na academia brasileira."
Prof. Ms. Munir Lutfe Ayoub - São Paulo - NEVE. 


UMA RETROSPECTIVA DAS ATIVIDADES DO NEVE

Nestes quatros anos de existência o NEVE co-organizou um evento internacional (III Simpósio Internacional de Estudos Celtas e Germânicos, 2010) e um nacional (I Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos, UFF, 2012), promovendo o intercâmbio e o debate entre os estudantes e professores interessados nos estudos nórdicos.

   


O grupo foi responsável pela edição de seis boletins (Notícias Asgardianas), com a publicação de pesquisas e atualidades da área.

     


Também neste período, diversos membros realizaram a publicação de livros, artigos, resenhas e participações em eventos medievalistas e historiográficos, permitindo a divulgação das atividades do grupo (para ver essa produção, clique aqui).
Na internet, o grupo mantém a página de um blog informativo (com mais de 28 mil acessos); a página do boletim Notícias Asgardianas; o grupo no facebook  e uma página no facebook.
Para outubro de 2014, o NEVE prepara a segunda edição do seu evento, o II Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos, a ser realizado em outubro na UFPB.